terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sobre transformações


Acho que me faltam palavrões para mostrar o quanto estou puta da vida com o que a minha cabeça está fazendo comigo. Eu já sou mulher, já aprendi a lidar com inconstância. Já me acostumei com hormônios subindo e descendo a ponto de praticamente não ter TPM, já lidei com os trabalhos mais exploradores que já tive conhecimento. Já sou mãe. Já sou casada. Sou boa em absorver os problemas alheios e dou bons conselhos. Transformo raiva em paciência. Ansiedade em atitudes corajosas. Sou filha do meio. Tenho empregada e ligo com freqüência para as centrais de atendimento de telemarketing. Atendo todos os contatos que me ligam com a mesma paciência e atenção. Não faço a unha a 3 meses por falta de tempo.
Será que, depois de aprender a lidar com tudo isso, fui obrigada a desaprender a como lidar com todo o resto que já tirava de letra? Será que o ser humano, para se aperfeiçoar em determinadas áreas, precisa se fragilizar em outras?
Ou será que à medida que crescemos o medo se aproprie de nós como forma de prevenção? Ou de proteção? Ou de alguém nos dizer que não se pode mesmo ser tudo nessa vida. Que ser o porto seguro de alguém transforma as suas bases em areia movediça. Porque a segurança é necessariamente uma ilusão, certo? Uma ilusão necessária, claro, mas uma ilusão. Não se sentir seguro, então, significa perder a inocência da realidade?
Não entendo e estou puta com a minha regressão. E mais puta ainda em saber que parte disso deve ser culpa da minha falta de capacidade de racionalização.