sexta-feira, 26 de junho de 2009

Me encontra na Zara

Tenho pena de minhas poucas (e fiéis) amigas porque a vida me fez seletiva. Meus desatinos são destinados a poucos a quem dou a honra de não agüentarem mais me ouvir reclamar. E, tendo eu um limitado e precioso tempo, descarrego três meses de dúvidas e amarguras em 2 horas de almoço improvisado.

Meu muito obrigado e minhas sinceras desculpas.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

à minha amiga, com carinho.

Dani,
Lendo o texto do seu about me no blog (tinha uma pedra...), me lembrei dessa fala. É daquele programa Mothern, sabe? Sempre começa com o depoimento de alguém sobre maternidade e dessa vez foi um sociólogo, achei super lúcido. Copiei há um tempo e não sabia com quem compartilhar. Não que tenha à ver com você como mãe etc, mas serve para tudo, acho: amizade, casamento. Vê se você gosta:


"Soberania é quando você faz o que você quer, aquilo que você deseja. Isso cabe, numa família, aos adultos, que são responsáveis pelas crianças. São soberanos. Já as crianças tem autonomia. Autonomia é você fazer o que você deseja no teu âmbito de limitação e ação. O que pais e mães precisam evitar é a desterritorialização, isto é, a anulação da fronteira dos mundos. O pai e a mãe, por exemplo, que anula a si mesmo e passa a agir e viver em função do outro. Essa criança acaba crescendo sem a idéia de limite e não tendo uma noção de perda. Não sabendo que vez ou outra ela terá negado o acesso ao outro território, que ela não está ali o tempo todo apenas para ser servida, que ela não está ali apenas para ser guiada pelos seus desejos, que existe um limite entre desejo e direito. Nessa condição, um pai e uma mãe precisam estar atentos para formar um adulto saudável, e a saúde mental vem, em grande parte, pela minha capacidade de enfrentar os obstáculos que a vida coloca. Saber, como dizia Drummond, que tinha uma pedra no meio do caminho. Vez ou outra, eu tenho que afastar a pedra, mas ela existe. Quem não tem noção da pedra no caminho não tem noção de perda, de recusa, de não e aí acaba, claro, tiranizando o território do outro e invadindo. Aí não é autonomia mais, é soberania e ocupação bélica. Em família também existe."
Bjins.


Querida amiga,
Aproveito a deixa "freud" que os e-mails e comentários do dia permitiram
E te conto um segredo: Quando fazia análise, me peguei várias vezes discursando (isso mesmo, discursando) sobre meus pais, minha criação, minha família. Isso, em certo ponto, começou a me fazer incrivelmente mal. Tudo porque comecei a transferir para mim (e exclusivamente) a responsabilidade sobre todos os possíveis traumas que meu filho certamente virá a ter. Você acha que é possível racionalizar esse processo e tentar diminuir o que ainda está por vir? Ou será que este processo é natural e traumático (e, por isso, necessário) a todos os seres humanos?

Estarei eu economizando uns tostões de análise de meu pequerrucho ou é um questionamento apenas autodestrutivo incapaz de corrigir as falhas de todo e qualquer ser humano?
Quando paro para pensar, bem como agora, me sinto mais mãe, como se assim, pudesse lhe controlar até o futuro. Aí me acho completamente arrogante e tenho a certeza de que, da mesma forma que os meus pais, e os seus pais, o meu filho vai ter que aprender a superar os defeitos de fabricação de seus guias porque eu simplesmente não posso fazer mais por ele do que já faço.

É a tal pedra no meio do meu caminho.

Bjos

sexta-feira, 12 de junho de 2009

And you be mine Valentine


Do livro "Anjo Pornográfico" de Ruy castro: " No dia 29 de abril de 1940, Elza saiu de sua casa na rua Miguel Frias, no Estácio, vestida normalmente para o trabalho. Trocou de roupa na casa de uma amiga. Nelson vestiu um terno de Mário Filho, que seria seu padrinho, e apanhou Elza. Foram ao juíz, casaram-se e saíram para comemorar, tomando uma média com torrada Petrópolia na leiteria Palmira. E então - você adivinhou - voltaram para "O Globo Juvenil". Cada qual sentou-se à sua máquina e trabalhou normalmente".


O final desse casamento eu ainda não sei. Conto quando chegar lá! Until... testem seu cinismo imaginando aonde isso vai dar.


Feliz dia dos Namorados =)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Velhice


Rio 10 de junho de 09

- Quando envelhecemos ficamos muito solitários sabe, minha filha? Não somos mais úteis para muita coisa, trabalho, família, sociedade. O que tínhamos que dar a este mundo já foi dado e o que nos resta agora é entender que a morte é um fato natural, assim como se sentar a mesa para comer, ter necessidades biológicas – ele falou com um sorriso cativante envolvido por uma rala barba cor de neve que lhe tomava toda a bochecha.
- Mas o senhor está tão bem! Anda por este terreno inteiro, bebe meia garrafa de vinho no almoço e ainda tem fôlego para ir dar comida ao cachorro. Quantas pessoas chegam aos 92 com este ânimo?
- Só tenho a agradecer, minha filha, por ter conseguido manter minha cabeça lúcida para entender que isso faz parte da vida. Por isso tenho essa força física, por manter minha cabeça sã.

Será? Será que a chave para a longevidade da vida está dentro da nossa cabeça? Escutando de um senhor de mais de 90 anos isso me parece muito viável. Mais ainda se conseguir me lembrar de quantas vezes na minha vida minha mente me pregou peças e me gerou medos sem fundamento assim como implicou em entusiasmos em vão. O que ninguém ensina é como fazemos para evitar que a vida arrombe nosso sossego e deixe seqüelas que, pelo visto, podem ser responsáveis pela qualidade de nossa vida na velhice.
Pode ser medido pela capacidade de abstração de uma pessoa? Ou pela potencialidade de seu cinismo? Talvez pelo seu egoísmo.
Com certeza, não pelo seu nível de questionamento.
obs: crédito da foto: Rafael Amorim

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Do que não entendo


RJ, 26 de dezembro de 2008

Foi mais um Natal onde a tradição da família me venceu e eu, sem pestanejar, recolhi minha trouxinha e me enfiei num carro durante mais de quatro horas para chegar onde não queria estar. Eu fui. É importante, todo mundo sabe que devemos cultivar nossas raízes. Eu tento. Faço de tudo o que posso para me sentir em casa naquela cidadezinha. Eu falho. Todas as vezes que me forço, por amor, por respeito, por pena. Falho, pois o sentimento que me consome é ainda maior. E posso jurar que ele piora todas as vezes que tento revertê-lo. Deve ser óbvio para quem me lê já que todo mundo também sabe que não conseguimos manipular nossos sentimentos. Mas é tão importante para as pessoas que eu amo que eu goste de lá, que, ao menos, eu tenha algum sentimento positivo, pode ser até um sentimento neutro. Mas o que me aperta por dentro nada tem a ver com imparcialidade. É irritante.

E eu tenho tanta vergonha de me sentir assim que quase não consigo escrever sobre, preferiria enterrar dentro de mim ou comentar apenas com aqueles que nenhuma relação tem com ninguém de lá. Sinto vergonha do meu preconceito e da raiva que me dá quando escuto o sotaque do caixa do supermercado. Os julgo ignorantes e desinteressantes – o que é quase uma redundância para a minha pessoa. O curioso é que costumo ter pena dos ignorantes por falta de oportunidade, mas com eles é apenas raiva mesmo. Não tem pena. Talvez a palavra não seja ignorante, então. Até as palavras me faltam, que vergonha que sinto desse relacionamento e no monstro que ele me transforma!
A questão é tão séria que chego a pensar que é carma, mesmo não acreditando nele. A religião, tão circunstancial, me toca quando estou por lá, na busca desesperada por uma resposta, qualquer motivo que justifique tanta mágoa. Tenho lá meus motivos racionais e “psico traumáticos’, mas eles simplesmente não me bastam! Onde já se viu, a minha cabeça não me bastar!?

De qualquer jeito, reafirmando meu caráter “vaselina” fui fazer o que detesto, no feriado que mais detesto (porque sou obrigada moralmente a ir para lá) só porque amo os que amam aquele local. Porque amo duas pessoas que lá se criaram e que não me despertam, nem de longe, raiva ou pena, e que não são ignorantes nem desinteressantes e que, por acaso, fazem grande parte do que sou hoje. Porque este fato não conta para meu coração quando deveria respeitar aqueles cidadãos? Porque não consigo ter uma visão macro de família sendo que a visão micro move as minhas atitudes na vida? Qual é a raiz de tanto preconceito? Experiências ruins não me parecem justificativa suficiente, pois já as tive por aqui também e, por aqui, tenho o costume bunda de sempre dar uma segunda chance e nunca julgar ninguém. Chego a ser uma pessoa soberba, como pode?!

E, para piorar, acabo de me dar conta de que este foi um dos textos mais demorados que já escrevi fato que comprova para mim – que me conheço tão bem (?!) – que a situação já é muito pior do que pensava já que tenho a convicção de que, onde minhas idéias não fluem, meu coração não se sente a vontade.

Mas por que, meu deus? Por que diabos?

terça-feira, 9 de junho de 2009

Presentes


Rio, 24 de outubro de 2008

Por vezes leio textos e relatos de escritores falando mal de casamento. Rola de tudo, desde grandes ironias a corações realmente partidos, de sarcasmo e humor negro a relatos de dor e descrença no mundo e nas pessoas. Acho que quase tudo isso Freud explica. Até o fato da geração feminista “sex and the city” que vem tomando conta das escritoras novas e fazendo com que elas, igualmente ao que os homens sempre fizeram, reneguem o casamento e se concentrem no sexo e na cidade (subentede-se de cidade: trabalho, amigos, casa, vida social, beleza e glamour). Tenho curiosidade pela nova geração de escritores e, confesso, mais ainda pelas escritoras e este modernismo popular do momento. Mas não consigo mais encontrar identidade e sinceridade nesse modernismo todo. De repente, as mulheres que se casam cedo viram seres estranhos, que vão contra tudo o que já se fez pela emancipação feminina. Os homens, claro, continuam nos adorando, as “pra casar” sempre se dão bem quando eles resolvem sossegar. Mas parece que é errado não ter tido um número razoável de parceiros sexuais antes de se decidir por apenas um. Soa retrógrado querer sair da casa dos pais para a casa do casal. Percebe-se estranho (rotineiramente) o espanto cínico dos comentários ao te verem de aliança na mão.
Eu, apesar de amar “sex and the city”, continuo acreditando no casamento. Não no modelo dos antepassados, mães, avós e tias. Mas no casamento que a nossa geração aprendeu a construir driblando a falta de grana que a gente tem quando começa a vida. Este mesmo que precisa de 4 braços e 4 pernas trabalhando dia e noite, fora e dentro de casa. O que entende uma licença maternidade que não permite nem desmamar os filhos e o que sobrevive a muito mais que a rotina: a falta de tempo.
O mais engraçado é que a vida junto a alguém é muito mais inesperada do que se pode imaginar. É fácil pensar no comodismo, na mesmice e no casamento como uma discreta prisão. Mais fácil ainda considerar o outro lado, o dos clichês: do companheirismo, da segurança. O que pouca gente fala é de como a gente precisa do outro. E isso para mim justifica a necessidade ou não que temos na vida. Não consigo conceber a vida sem o outro. Aquele bendito outro que nas aulas de psicologia da faculdade a gente aprende a escrever com “o” maiúsculo com muita propriedade, aliás. Aquele que faz a gente precisar de um vestido Gucci ou de uns óculos de intelectual. Que nos faz ir aos locais bacanas e agir assim ou assado em uma reunião ou em um bar. O casamento diminui um pouco a necessidade que a gente tem de ser alguma coisa. Porque ser alguma coisa é um troço super cansativo. E chega um hora em que a gente só quer ser o que se é mesmo. O bom do casamento é poder ser, sem vergonha. (momento aspas: tô falando DO CASAMENTO, não dos casamentos, entende?)
A gente chega em casa do trabalho cansada de ser polida e de engolir sapo, de escrever “atenciosamente” e” caros” nos e-mails e de se reportar a sua chefe como uma imbecil. Encontra a casa uma bagunça e descobre que a sua empregada não fez nada do que você pediu e ainda trocou seus móveis de lugar (tem um amigo que diz que todos os empregados domésticos queriam, na verdade, ser decoradores). Aí você briga com ela, mas de forma educada mesmo querendo mandar ela a merda 20 vezes. Quando ela vai embora você vai brincar com seus filhos de futebol mesmo com os seus pés cheios de bolhas por causa do maldito sapato bico/salto fino (a combinação do terror) que você precisa usar o dia inteiro. Depois, tem que dar a comida das crianças e tem que colocar todo mundo pra dormir mesmo quando a sua vontade é deixar eles verem desenho até as 2hs da manhã. Briga para escovar os dentes, põe na cama e, voilá! Olha para o seu marido que está tão desesperadamente cansado o quanto você de ser para os outros o dia inteiro. Você vai para o banho e ele liga o computador. Você sai do banho, de toca na cabeça, com aquele corpinho que definitivamente não foi o que ele apaixonou e reclama no ouvido dele por alguns minutos enquanto ele reclama do time de futebol que é o lanterna do campeonato. A vida não está fácil, nossa conta está negativa e precisamos fazer supermercado. Antes vocês falavam sobre livros e cinema europeu. Mas agora você pode discutir o preço da carne e a roupa ridícula que a Mariah Carey usou no show que vocês viram na tv a cabo. A diferença é que agora você não está mais fingindo. Não que você não goste de livros e de cinema europeu. Vocês gostam sim, e muito. E sentem falta da época em que tinham tempo de ver 5 em uma única semana. Mas ninguém vive disso a vida inteira. É preciso discutir o preço da carne e fazer sexo de forma tranqüila, sem pressão. Não é que você relaxe em relação ao seu corpo como as pessoas dizem. Você simplesmente não precisa mais fingir que é sarada se você não suporta academia.
Depois que a gente casa as únicas coisas que permanecem são as reais. E é isso que vai determinar a longevidade do relacionamento: a capacidade que o casal tem de ser sincero um com o outro. A gente vê tudo, do tamanho da barriga à mania irritante de não tirar o lixo quando o saco está cheio. E aceita, ou não. É preciso sim muita paciência e conhecimento do outro e claro, esta tarefa é dificílima. Mas quando se consegue não há como descrever o conforto que é ser você para a pessoa que mais te ama neste planeta.
Existem duas formas bem definidas de se entender a minha definição de casamento: para os cínicos eu sou só mais uma menina romântica que, provavelmente parou no tempo e não percebe as oportunidades da mulher emancipada. Para os românticos tudo o que penso era a justificativa final de que uma vida a dois pode valer a pena como investimento pessoal e que vai além dos filmes da Julia Roberts.
Eu, que não sou cínica nem romântica, prefiro sair pela tangente e propor uma nova análise. Sejamos racionais. Se a gente precisa ser vista, agradar, ser a mais linda, mais inteligente, mais eficaz, mais mãe, porque não diminuir a pressão das nossas vidas dando a um ser humano a honra de saber que não somos as melhores em nada. Sempre existirão pessoas mais por aí. A gente só tenta e, sem ilusões, vamos apenas continuar tentando. A pressão existe hoje muito mais do que jamais existiu entre os casais. Todo mundo tem jornada dupla de trabalho, o tempo é curto e a vontade de fazer tudo é grande. Por isso, cada dia mais, somos obrigados a tomar decisões e a seguir caminhos. Perguntar se o caminho escolhido foi o certo para alguns é a chave da humildade e da possibilidade de voltarmos atrás. Como, por experiência própria sei que certos caminhos são sem volta, procuro passar os meus dias procurando tudo o que a vida ofereceu a mim, que hoje me é vital, mas que eu nunca teria acesso se não fosse uma decisão tomada. Não estou propondo um diário de auto ajuda mas sim um trabalho mental que tento fazer nos dias em que estou mais lúcida. Nos outros, onde a tristeza sem fim me abate e me sinto cansada, tenho uma pessoa do meu lado capaz de entender que meu cansaço é da vida e que eu só preciso de um minuto, ou de um colo, ou de um presente. Às vezes parece que ele sabe mais do que eu do que realmente preciso. E isso é terrivelmente clichê, mas sei ceder aos clichês sinceros.
O que importa é que cada pessoa seja honesta com o que realmente quer. Já que queremos mesmo tudo, para sermos felizes alguma coisa vai ter que prevalecer em algum momento. Você pode ser a próxima Carrie, ou qualquer uma das outras três personagens do seriado. Mas, nada me tira da cabeça que o sucesso deste roteiro se deu na fórmula milagrosa de juntarmos 4 mulheres completamente opostas em um unidade chamada amizade. Com certeza cada mulher se identifica um pouco mais em uma do que na outra. Mas todas nós queremos ser as 4, bem ao mesmo tempo, na dosagem certa. Essa é a mulher perfeita.


(Seguindo este linha de raciocinio: Temos a Charlotte. Quieta, meiga e busca o amor verdadeiro desde o início. Que encanto ser charmosa e dengosa e, como é bonito se imaginar apaixonada como ela. Mas a empatia dura até certo ponto, quando queremos emancipação e caímos em Miranda, advogada de look moderno. Ela é culta e charmosa, mas é medrosa demais para os relacionamentos duradouros. Então tentamos a Carrie que é a síntese das mulher moderna: magra, rica (o rico moderno, o aristocrata está fora de moda), independente. E esta a procura de amor desesperadamente mas não encontra. Aí ela fica chata com aquela história de Mr. Big para lá e para cá e dá vontade de dar o telefone de um terapeuta para ela. Por isso corremos para a Samantha que é a sexóloga da galera, ousada e esnobe. Essa aí irrita a gente rapidinho, não a toa arrumaram um câncer para dar algum drama na vida da pessoa. Cada uma serve perfeitamente para as crises de identidade femininas e ao mesmo tempo, para as nossas mil vontades de ser aquilo tudo na hora e na medida certas.)

Questionamentos

Búzios 24 de fevereiro de 2009
Eu poderia sair pela tangente e afirmar que estou na TPM. Na verdade seria até fácil, visto que estou no momento propício para isto - no caso da maioria das mulheres - mas sei que este mal pouco me aflige. A TPM é sempre uma ótima desculpa para esquecermos daqueles momentos em que nos questionamos e ficamos mais suscetíveis aos flagelos da vida. Ficar puto com pequenas coisas pode ser um indicaivo de irritabilidade ou de incorfomismo, depende muito do ponto de vista. Porque, afinal, as coisas apenas são do jeito que são e somos umas pentelhas por querer argumentá-las? -Todo dia você faz isso sem reclamar, porque justo hoje você resolveu que isso te incomoda? Deve estar de TPM... Aí a gente acredita neste argumento absurdo, finge que nada aconteceu e continua fazendo a mesma coisa de sempre, sempre.
O que realmente acontece é que passar a vida reclamando é uma atitude inquietante. Sendo assim, muitas vezes agimos de forma com que tudo corra bem, sem maiores confusões, fazemos o que não queremos, tomamos pra si responsabilidades que não deveríamos mas tudo bem, é em nome da paz. Dá para viver assim e esconder pequenos surtos na sua condição mulher, mas isso não significa, pelo menos, um surto mensal questionador? Por mais que sua personalidade seja conformada, em algum momento vai te doer, alguma atitude vai te alertar que as coisas andam erradas e elas assim estão porque você deixa elas ficarem por pura preguiça. Vá lá, talvez medo, misturado com preguiça. Não é culpa de ninguém mais além de você mesma. Ninguém obriga as pessoas a assumirem nada. Existem milhares de mulheres que possuem filhos e não assumem responsabilidade nenhuma em relação a isso, mesmo quando resolvem "assumí-los", certo? A vida nos oferece muitas possiblidades mas quem resolve quais vão nos tirar o sono somos nós mesmos.
"Mudaram as estações, nada mudou mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim tão diferente..."
Por quanto tempo a gente consegue levar a vida no "felizes para sempre"? Afinal, os problemas cotidianos são tão bregas! Mas, por mais que a gente tente fugir, a vida tá na porta, esmurrando e te lembrando que são meio dia e seu filho precisa comer. Aonde está o equilíbrio entre o real e o imaginário? sim, porque só sobrevive quem consegue achá-lo. Ou quem consegue escolher um lado e ser tão cínico a ponto de fingir que o outro simplesmente não existe.

Sobre escolhas


Rio de janeiro, 20 de dezembro 2008

Sobre escolhas.

Não é novidade nenhuma que a vida de qualquer pessoa é feita basicamente de escolhas. O que acontece ou deixa de acontecer assim o é por livre arbítrio, mesmo o que parece ser o maior dos acasos que o destino já desenhou.

A gente escolhe e, claro, junto com a escolha vem a famosa renúncia. Troço complicado esse. Se não fosse pela perda de um mundo de possibilidades quando escolhemos um caminho único, arrisco dizer que a vida não teria lá muito propósito, ou, pelo menos, não teria muita graça e os assuntos de banheiro feminino iam ficar bem reduzidos. Reduzir a sua possibilidade ao ler um cardápio no restaurante, por exemplo, a um prato por si só já é muito arriscado. O que a gente pensa: 1-Naquela vontade de comer massa mesmo que você esteja em uma churrascaria; 2- No preço; 3- No que a sua companhia vai comer; 4-No tempo que demora o preparo (dentre outros etc e tal).

Se você, naquele dia, foi uma pessoa número 1, estava em um dia bem emocional tão ridiculamente vulnerável que não consegue raciocinar que existe 99% de chance daquela opção ser a errada. O 2 é tão racional que não se importa de comer até o que não gosta contanto que mate a sua fome, alimente seu corpo e não doa no bolso. O 3 fica sem graça de pedir um estrogonoff do lado de alguém que acha um absurdo comer carne vermelha ou está na dieta do carboidrato. E o 4 tá ignorando aquela refeição porque comer já não é um direito seu há um tempo.

Ai, que exemplo idiota! Mas é uma comparação tão simplória que me encanta. É muito difícil escolher a sua prioridade e seguir nela sem querer olhar o cardápio de sobremesa ou ver a mesa ao lado pedir um prato com a cara muito melhor do que a o seu pedido.

E pode até estar delicioso. Sua escolha pode ter sido perfeita para as suas necessidades. Balanceada, no tempo e preço certos e saciável. A questão é se convencer de que os outros pratos são necessariamente piores.

Ou ainda, o contrário. Ser tão comodista a ponto de brincar de “Super size me” e se convencer de que não é preciso variar, pois o feijão com arroz é sempre uma opção confiável.

As pequenas escolhas da vida são tão (ou mais) importantes do que as enormes. Pois as tomamos sem se auto questionar, na maioria das vezes instintivamente, e são elas que vão determinar o nosso estômago para as grandonas. O dia a dia é sempre tão ignorado e é sempre ele o responsável pela temida rotina. Percebem como é tudo uma cadeia só?

Como você toma as suas decisões? È você quem as toma? Ou será que alguém vem tomando elas por você e te roubando um pedaço importante de humanidade? É difícil, mas é a roda que move a vida. E você pode, se quiser, ficar como um ratinho de laboratório rodando para exercitar... para esquecer que está enjaulado talvez.

Sobre expectativas


Nas últimas semanas li algumas das colunas do jornal – as de sempre – e fiquei me perguntando porque até os escritores mais renomados e, teoricamente, mais independentes editorialmente, se propõe a escrever sobre o natal e, nesta semana, invariavelmente sobre o ano novo que se aproxima. Posso até entender que isso seja inspirador pois, até para quem não é religioso o Natal tem um significado bacana de família e serve, até para os sem família perceberem como se sentem em relação a isso.

Entendo a importância simbólica das datas e não sou hipócrita de dizer que não me importo com elas já que me preparo desde novembro para as benditas e tenho o costume de chorar muito na última. O que não entendo é a necessidade de se escrever sobre o que já sabemos. Que seus ânimos se renovem, muita saúde, paz e perseverança e coisa e tal. Tudo chega a soar teatral de tantas vezes que é repetido na noite do bom velhinho. Alguém acredita quando a sua tia, que você não vê há meses, chega até você e lhe deseja, claro, tudo o de bom? Não que ela não deseje mas, na verdade, quem me deseja mesmo tudo de bom, são as pessoas que convivem comigo, que conhecem e discutem os meus problemas ao longo do ano e que, quando esta data chega, não me desejam absolutamente nada. Porque os melhores presentes são comprados quando não há necessidade deles e os melhores desejos vem dos dias em que se senta junto e quebra-se a cabeça para tentar resolver um problema banal.

Isso é desejar tudo o de bom porque é fazer o bem acontecer de verdade, todos os dias. É ser alguém para alguém e se importar tanto a ponto de se desconcentrar na reunião de segunda no trabalho.

É por isso que choro no ano novo. Todo ano que se encerra, para mim, é um desabafo. É a sensação de que consegui, porra, eu consegui! Eu fechei esse ano sem dever a ninguém, trabalhando para caralho, mantendo meu casamento saudável e meu filho de desenvolveu incrivelmente. Muita merda aconteceu e eu precisei acumular, precisei não chorar para manter a minha cabeça sã. E de tantas lágrimas guardadas e tanto sentimento reprimido em prol da minha rotina saudável, me dou ao direito, bem no dia do réveillon, de chorar descomunalmente, de sentir todo o peso do mundo ser levado das minhas costas, simplesmente porque eu consegui fazer mais um ano ser levemente melhor que o anterior.

Mas, voltando ao tema que me fez sentar ao note, por mais que essas datas mexam de verdade com as pessoas, isso não deveria fazer delas um grande tabu? Por ser para mim, digo bull shit para tudo o que leio, de Drummond - o recordista do top ten da caixa de e-mails – a Martha Medeiros no jornal de domingo, porque eles, simplesmente, não tinham que escrever sobre isso!

Continuemos nossas crônicas sobre o nada. Que a Cora continue a escrever sobre seus gatos e que Dapieve se afogue nas ondas musicais. Mande o Jabor continuar a ser um pentelho e o pentelho da Veja e do Mahatann Connection – que de tão pentelho me escapou o nome agora – continue a falar mal do Lula. É só tempo! Mas, o mais importante, é que é o tempo de cada um. Tem que ser silencioso, tem que ser imoral e dramático e melancólico, cada um a ser modo. Simplesmente, não pode ser exposto na revista de domingo.

Porque vai ser falso, entende? Porque nenhum deles escreverá sobre a merda de ano que teve e que seu casamento acabou. Eles não vão contar que o 13º foi todo para as dívidas que ainda não se pagaram nem que sua mulher está grávida de um filho com síndrome de Down. Eles vão desejar saúde e paz. E a gente não vai ter saúde nem paz porque não são os desejos de final de ano que determinam o que vamos encontrar pela frente. São as pessoas que nos seguem, e que não se importam se a gente está com saúde ou com paz, por que elas estarão do nosso lado em ambas as negativas. Aliás, elas estarão, principalmente, nas negativas.

A magia dos desejos alheios está em não desejar absolutamente nada. Talvez, consumida por este pensamento insistente em minha cabeça é que, neste ano, não consegui responder a nenhuma mensagem feliz que os modernos SMS que enviaram. São pessoas queridas que se deram ao trabalho de catar as letrinha no teclado do celular e me escrever a mesma mensagem. E, eu, bem..., quando me deparei com tantas mensagens iguais só pude pensar que nenhuma daquelas pessoas fofas merecia a minha falsidade de volta. Então li, agradeci em pensamento já que a energia é a mesma, e me concentrei no fato de que este novo ano não vai ser fácil para ninguém. Para alguns mais, para outros menos. Para mim, difícil. O que não é novidade já que sempre achamos que a nossa vida é mesmo mais difícil do que a dos outros – forma mais simples de nos tornarmos heróis de folhetins mexicanos para nosso subconsciente e sermos mais felizes.

Provavelmente passarei a meia noite aos prantos. Vou agarrar meu filho, me ver nele, e chorar muito pela dificuldade que é ser um menino de 2 anos de novo. Meu marido, coisa fofa que é, vai ser o ombro mais aconchegante que ele jamais foi e eu vou amá-lo mais ainda, por mais um ano. Porque é assim que a minha vida se renova.

E, na segunda, eu volto ao trabalho. E ao tarja preta.

Obs: Diogo Mainardi.