terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ciúme de você

Todas as vezes em que ouvi falar sobre a relação de Simone de Beauvoir e Sartre estava de uma forma ou de outra ligado a um amor livre - ou a tentativa de se manter um. Lia que eles nunca foram casados mas desde o momento em que se conheceram assumiram uma co-dependência emocional muito maior do que qualquer relacionamento poderia criar. Acho que admirava, de algum ângulo que não entendo muito bem, o fato de algum casal ter tido a coragem de assumir tamanha liberdade emocional. Não sabia exatamente como nossa cabeça poderia controlar nossos impulsos, como poderíamos ser tão convictos de nossos ideais a ponto de anular sentimentos como possessividade, ciúme e obsessão. Sentia orgulho deles.
Infelizmente, ao ler a biografia do casal, minha impressão mudou da água para o vinho. Se sentia orgulho, estou me deparando com um sentimento de pena que quase me gera vergonha. Continuo com a impressão de que a dependência emocional de ambos realmente era impressionante e difícil de colocar em palavras. Porém a forma com que as coisas foram conduzidas entre eles me parece agora muito mais forçada do que natural. Eles sofriam com os amores do outro constantemente e viviam jogando um com o outro um gamezinho esquisito, quase sádico, onde cada encontro amoroso era narrado, as vezes com detalhes por longas cartas. Para que, me pergunto? Me parece, pela lógica, que era uma tentativa de gerar no outro alguma reação, provocar sua insegurança ao limite. Que amor é esse que tenta derrubar as convicções convencionadas por ele mesmo? Me parece, novamente pela lógica, que esta é mesmo uma tendência do ser humano, a tal da auto sabotagem. E se eles eram um só, tentar desestabilizar o outro seria apenas mais uma manifestação da pobreza humana.

3 comentários:

Litza disse...

Aff, detesto esse casal tb. Dizem que a Cerimônia do Adeus, dela, é o último e maior ato de desamor da relação dos dois. Acho que vi aí na sua casa. Ela conta, em detalhes excessivos, a doença e a morte dele. Ó, fiz esse post há algum tempo:

"O famoso pacto de Sartre e Beauvoir definia que os amores se dividiam entre essenciais e contigentes. O essencial, claro, era o que sentiam um pelo outro. Os contingentes, todos os outros. Nelson Algren, mais importante amante de Simone, não aceitava essa divisão. "Quem vive de amores contingentes tem uma vida contigente", dizia. Ela sugeriu então, depois de uma briga, que se tornassem amigos apenas. Ele respondeu: "Jamais poderia lhe dar menos do que o meu amor."

(Historinha tirada do livro "Sobre o amor", de Leandro Konder)"

Leia agora (se der tempo, antes do Lucas nascer) o livro com as cartas dela com o Nelson Algren e vc terá um belo panorama. E compartilhe com os leitores!

Beijos!

Daniela Ricotta disse...

Obrigado, Lili.. vou ler sim! Na minha ordem cronológica da história ainda não cheguei no Nelson, ela ainda prefere se envolver com mulheres, só um cara apareceu.
Mas, a cada página lida tenho mais certeza de que esses dois foram uma grande farsa - além de dois sádicos estranhíssimos..rs
Níver chegando, né?

Anônimo disse...

Adorei seu blog, Dani. | Realmente, deve ser bem difícil levar essa "indiferença" emocional por muito de forma saudável. Ah, tenho um porém pra colocar também. Aonde foi que as pessoas leram que a auto sabotagem é somente ruim? Acho isso meio "moralismo analítico", apesar de entender a importância de saber o que é auto sabotagem. Enfim.